segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Todos Os Dias Morre Um Amor


Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor.
Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina.
Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas vexaminosos, capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos.

Morre em uma cama de motel ou em frente à televisão de domingo.
Morre sem beijo antes de dormir, sem mãos dadas, sem olhares compreensivos, com gosto de lágrima nos lábios. Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, cartas cada vez mais concisas, beijos que esfriam aos poucos.
Morre da mais completa e letal inanição.

Todo dia morre um amor.
Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro.

Todo dia morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria que na prática, relutemos em admitir. Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso.
De saber que, mais uma vez, um amor morreu.
Porque, por mais que não queiramos aprender a vida sempre nos ensina alguma coisa.

E esta é a lição: amores morrem.
Todos os dias um amor é assassinado. Com a adaga do tédio, a cicuta da indiferença, a forca do escárnio, a metralhadora da traição. A sacola de presentes devolvidos, os ponteiros tiquetaqueando no relógio, o silêncio insuportável depois de uma discussão: todo crime deixa evidências.
Todos nós fomos assassinos um dia. Há aqueles que, como o Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem se esconder debaixo da cama, ao lado do bicho papão. Outros confessam sua culpa em altos brados e fazem de pinico os ouvidos de infelizes garçons. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime e buscam por novas vítimas em salas de chat ou pistas de danceteria, sem dor ou remorso.
Os mais periculosos aproveitam sua experiência de criminosos para escrever livros de auto-ajuda, com nomes paradoxais como "O Amor Inteligente" ou romances açucarados de banca de jornal, do tipo "A Paixão Tem Olhos Azuis", difundindo ao mundo ilusões fatais aos corações sem cicatrizes.

Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: corcéis feridos.

Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, morto-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão. Estes não querem ser sacrificados e, à semelhança dos zumbis hollywoodianos, também se alimentam de cérebros humanos e definharão até se tornarem laranjas chupadas.

Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias o sorriso daquela ruivinha da 4a. série ou entre fãs que até hoje suspiram em frente a um pôster do Elvis Presley (e pior, da fase havaiana). Mas titubeio em dizer que isso possa ser classificado como amor (Bah, isso não é amor. Amor vivido só do pescoço pra cima não é amor).

Existem, por fim, os amores-fênix. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, dos preconceitos da sociedade, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, da mesa-redonda no final de domingo, das calcinhas penduradas no chuveiro, das toalhas molhadas sobre a cama e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram: teimosos, belos, cegos e intensos.
Mas estes são raríssimos e há quem duvide de sua existência. Alguns os chamam de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido a não ser como lendas. E é esse amor que eu quero viver.
PARA SEMPRE!
(Autor Desconhecido)

sábado, 18 de agosto de 2007

A CONVIVÊNCIA E O AMOR

Pedir um abraço, cobrar um beijo e exigir carinho não combinam com o amor.
A cobrança aniquila com a possibilidade de oferecer e de receber o afeto.
Como beijar depois de escutar "não me dás mais beijo"?
Como transar depois de ouvir "não transas mais comigo"?
O que é voluntário vai parecer obrigatório, o que é escolha vai parecer induzido, o que é vontade vai parecer condicionamento. Por que transformar a convivência em coleta de impostos? Será que não se está levando o trabalho para casa, a empresa para a casa, o demônio do cartão-ponto para dentro da carne?
Qual é o prazer de pressionar, de impor resultados e regras, de controlar o que é para ser incontrolável? Por que difamar a única verdade que se tem? É fácil perguntar, difícil é ouvir a resposta sem se mexer, até o final.
É fácil atacar para aumentar a culpa, difícil é compreender sem defesas. Cobrar afeto é pior do que agredir fisicamente. Incha mais do que um tapa na cara. É cortar as palavras mais do que os lábios. Assume-se a condição de credor, como se o amor fosse uma dívida. Assume-se uma posição superior em relação ao cobrado. Uma posição hierárquica, de chefe reivindicando o cumprimento dos prazos. Não se cobra o que é espontâneo.
Entra-se no solo movediço e insano do recalque.
O recalque é uma carência que não conversa mais.
É uma carência arrogante, cleptomaníaca, que furta do amor para gastar com a solidão. Não estou me referindo ao ciúme.
A cobrança por afeto não decorre do ciúme, da insegurança, mas se origina no excesso de segurança que beira o autoritarismo.
Representa a posse, a mania totalitária de não permitir as imperfeições e desejos contrários. Ah, se a pessoa com quem amamos não está a fim de um beijo ela não me ama mais!
Que exagero infantil.
Toda hora se deseja ouvir “eu te amo” como se o amor fosse chiclete para ocupar a boca. Talvez seja mais linguagem de sinais. Depende de reciprocidade, de atmosfera, do outro estar com a cabeça leve e descomplicada para fluir.
Não depende só da gente. Nem sempre se está disposto a viver em voz alta.
Há períodos destinados a sussurros e cochichos. Não se pode amar por caridade ou por orgulho, senão cobraremos.
Assim como é necessário diferenciar a expectativa do amor, a euforia da alegria, a depressão da dor, pois são sentimentos bem diferentes. Deve-se tomar cuidado para que não seja criado dentro alguém que não existe fora. Ou criar fora alguém que não existe dentro. O amor não é versão de Windows que é atualizado a cada ano para girar mais rápido.
O amor é lento mesmo.
(Autor Desconhecido)