sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Caminho..Buen Camino

Como hoje está complentando um ano de minha viagem a Espanha com o objetivo de fazer o Caminho de Santiago de Compostela compartilho com voces um pouco de alguns momentos que vivi por lá.

Quase sempre me perguntam: Por quê? O que faz uma pessoa sair do conforto de sua casa, de sua cama, deixar sua família, carro, roupas, trabalho - para passar calor, frio, cansaço, dor, solidão, tristeza numa terra distante? Muitas perguntas não têm resposta, não são passíveis de uma explicação convincente. Acredito que Alguém me chamou para trilhar esse caminho que foi a viagem mais inesquecível que fiz na minha vida!

Na verdade não sei descrever, nem definir o que é o caminho de Santiago. Não consigo palavras para relatar o que senti durante o caminho, é algo completamente inusitado, completamente diferente do que estava acostumada a viver. Um turbilhão de emoções, de sentimentos contraditórios e intensos, alheado ao sofrimento físico, a dor e ao cansaço.

Revivi toda minha vida, confessei meus pecados, perdoei meus erros, me arrependi pelo que fiz, pelo que não fiz e pelo que farei. Chorei, chorei muito. Senti saudade das pessoas que amo e não estão mais aqui, senti saudades dos momentos bons e das lembranças felizes, então sorri e agradeci por tudo que tenho. Impossível não fazer uma auto-análise, são muitas horas de caminhada, muitas horas de solidão, isso nos faz refletir, lembrar, ressuscitar momentos.


Algumas vezes sorria pela oportunidade de presenciar a beleza da natureza, suas formas perfeitas que nós não temos tempo e nem vontade de ver no nosso cotidiano. O distanciamento da nossa realidade nos permite ter sensações que deixamos de sentir no nosso dia-a-dia porque vivemos rodeados de horários, compromissos e problemas.  Esse isolamento espontâneo induz ao encontro consigo mesmo e com Deus, me deu a certeza de que Ele existe e habita a camada mais profunda de nosso ser e aflora quando olhamos com outros olhos para o que nos rodeia.

A emoção de compartilhar o mesmo objetivo com pessoas de todos os lugares do mundo, completamente diferentes entre si: moços, velhos, ricos, pobres, magros, gordos, é emocionante. A dificuldade da comunicação por causa dos idiomas desconhecidos dificulta, porém desenvolve outro tipo de entendimento: a compreensão pelo olhar.  O sentimento de  que todos somos iguais diante de Deus nunca me pareceu tão verdadeiro e real. A solidariedade, a fraternidade que existe lá, faz do Caminho um local único. A necessidade de vencer a distancia, o cansaço, as dores, as bolhas me faziam desejar o momento da chegada em Santiago, ao mesmo tempo em que chegar significava o fim da viagem e isso era motivo de imensa tristeza.
O Caminho é inexplicável, o que vi e aprendi trilhando aquelas paisagens está gravado para sempre em minha mente e em meu coração.

“O que a memória amou fica eterno”

3 comentários:

  1. Te admiro por ter tido esta ousadia e ao mesmo tempo uma decisão que só iria contribuir para a tua alma. Sim! Alma. O que vivestes lá foi de aprendizados únicos e inexplicável; pois só quem passa por isto sabe o que é encontrar-se consigo mesmo e com Deus.

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  2. Acho que momentos de solidão são indispensáveis para que possamos nos auto-analizar. É no silêncio e na solidão que muitas vezes encontramos as respostas pra muitas perguntas. Quando paramos de falar, começamos a ouvir. E no caso, ouvir a voz de Deus.

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  3. Olá Sonia,

    Essas coisas não se explicam...
    Esses momentos fazem-nos reflectir toda uma vida...!

    Gostei muito de ler-te.

    Um beijo e que tenhas um excelente final de semana.

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